Sady Rener Prestes
Dos Pampas Gaúchos ao Vale do Urucuia.
Buritis acabava de passar pela chamada década do feijão, durante os anos 70 a produção cresceu tanto que os produtores não sabiam onde estocar o grão. Assim, foram construídos os galpões da Casemg. No final desta década se viam diversas fileiras de caminhões rodeando as quadras da Casemg, pelas ruas Rui Barbosa, Floresta, na avenida Bandeirantes e Goiás.
Durante a década de 80, muitas famílias vieram de diferentes lugares da região sul do país com destino ao promissor município de Buritis. A maioria dessas famílias vieram especialmente do Rio Grande do Sul, de cidades como Santo Ângelo, Santa Rosa, Catuipe, Ijuí, Cruz Alta, Pelotas, Panambi, entre outras.
O pioneiro dessa migração foi o gaúcho Sady Rener Prestes, um dos grandes responsáveis pela evolução da agricultura em Buritis. Sady nasceu em 2 de julho de 1922 na cidade de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul. Filho de Alfredo Vieira Prestes e Leonida Rener Prestes, Sady foi o primogênito dos sete filhos do casal de agricultores.
Aos 15 anos foi tropeiro de mulas que eram levadas do Rio Grande do Sul a São Paulo. Segundo consta, esses tropeiros seguiam o mesmo caminho feito anos anteriores pela Coluna Prestes, para chegar ao seu destino. Sady Prestes foi também alistado no exército durante a Segunda Guerra Mundial, na década de 40. Quando estava no Rio de Janeiro pronto para embarcar, recebeu a notícia do fim da guerra.
Casou-se com Cerany Farias Prestes em 14 de maio de 1946 em Santo Ângelo e tiveram cinco filhos, Edgar, Elenir, Eloir, Alfredo e Cleusa. De acordo com relato de seus familiares, continuou sendo tropeiro até completar os 29 anos. Durante sua vida no Sul, foi também agricultor e pecuarista, cultivava milho, soja, trigo e arroz em sua propriedade na terra natal.
Um de seus filhos, Alfredo Prestes, veio trabalhar ainda garoto com o tio Eli em uma fazenda no município de Paracatu, na década de 70. Através desse trabalho, Alfredo teve notícias de terras de qualidade e com bom preço nos municípios de Buritis e Formosa. Levou essa notícia para o pai e o irmão em Santo Ângelo, despertando em ambos o interesse em conhecer a região.
No final da década de 70 e início de 80, apenas o grande Vale do Urucuia era utilizado por fazendeiros locais para fins pecuários e algum tipo de agricultura, como é o caso do feijão. As terras da chapada de Buritis não eram cultivadas e por não despertarem interesse nos moradores e fazendeiros locais, eram vendidas a um preço baixo, tanto pela distância, como pela vegetação bruta que apresentava.
Tomados pela coragem de conhecer e viver novas possibilidades, a família Prestes se muda para Buritis em 1980. Comparavam o equivalente à compra de 1 hectare de terra no Rio Grande do Sul, a 200 hectares de terra na chapada de Buritis.
Quando aqui chegaram se viram empolgados com a qualidade da terra e a capacidade de produção. Vieram primeiramente os homens para conhecer o lugar, logo após retornaram à Santo Ângelo e buscaram a família, que veio de mudança em um caminhão até Buritis. As irmãs Prestes estabeleceram-se inicialmente em Formosa (GO) e os irmãos Alfredo e Edgar, juntaram-se com o pai e logo começaram a trabalhar, cultivando diferentes tipos de grãos no imenso chapadão do município.
Sady comprou as terras que vieram ser a fazenda Nossa Senhora de Fátima, na região próxima da COOPAGO e do distrito de Serra Bonita. Nesta fazenda ele desenvolveu a agricultura de grãos, com soja, milho e feijão em grande escala. O casal Sady e Cerany adquiriu residência fixa localizada na avenida Goiás em Buritis, no ano de 1983.
Após a chegada da família Prestes, muitas famílias seguiram o mesmo caminho do Rio Grande do Sul e Paraná com destino a Buritis. Foram as famílias Taborda, Brezolin, Piseta, Coque, entre outras tantas, que migraram e desenvolveram a agricultura local, tornando Buritis num expoente mineiro no agronegócio nacional.
Cerany Farias Prestes faleceu em 21 de junho de 1989, deixando Sady viúvo aos 67 anos. Com o passar dos anos, a família comprou uma propriedade no Vale do Urucuia, às margens da rodovia MG-400, bem próximo à cidade, onde resolveram trabalhar com a pecuária.
Os anos seguintes foram de destaque na produção de grãos e de leite no noroeste mineiro. Os filhos Alfredo e Edgar ganharam como maiores produtores de leite e milho da região em 1996. Vale lembrar que quando Sady mudou para Buritis, trouxe consigo além da família, alguns maquinários como Colheitadeira, equipamentos, técnicas de plantio e peões vindos do Sul, para dar início ao trabalho com a agricultura em larga escala.
Em 5 de setembro de 1991 Sady se casou com Claúdia Valadares na Matriz de Nossa Senhora da Pena, em Buritis. Sua recente esposa provém da tradicional família mineira, descendentes de Joaquina do Pompeu. Deste casamento tiveram dois filhos, Ruhan e Rayra.
Com a chegada dos gaúchos, Buritis passou a ser destaque na agricultura, estando entre os quatro municípios com maior produção de grãos em Minas Gerais. Durante a velhice o Sr. Sady Prestes nunca deixou de trabalhar, ele se voltou para a pecuária e para a produção de leite no Vale do Urucuia.
Faleceu em 12 de fevereiro de 1998, vítima de um acidente vascular cerebral em Buritis, onde foi sepultado. Seu corpo foi velado com grande emoção e gratidão dos filhos, netos e amigos que se estabeleceram no município mineiro, graças a sua determinação e coragem.
Sady Prestes nunca deixou as tradições de seu povo de lado e ao mesmo tempo foi inserido naturalmente na cultura mineira, sendo respeitado e reconhecido por todos. É lembrado por ambos, gaúchos e urucuianos, pela sua dedicação ao trabalho, seu compromisso e honestidade.
FONTE: Raízes e Cultura de Buritis no Sertão Urucuiano e Família Prestes.