Os perigos que rondavam o sertão
Por essas terras infindáveis do mundo mais primitivo, pouco conhecemos o julgo dos homens que aqui viveram. No Brasil Colonial, o homem branco, um tanto ambicioso, tentava dominar tudo e todos, a todo custo, por ser portador de uma cultura mais avançada.
Na primeira fase da colonização de Minas Gerais, a distribuição da dita terra estava dentro do Tratado de Tordesilhas, que dividia o Brasil em 15 lotes gigantes, chamados de Capitanias Hereditárias.
Prejulgamos que nossa região estivesse sobre a Capitania de Ilhéus, cujo donatário era o Senhor Jorge Figueiredo Correa. Por outro lado, ainda existiam muitos homens de alma amargurada, fugitivos que viviam exilados nas cadeias públicas de Portugal.
Muitos desses homens foram enviados ao Brasil, ganhando cargos de feitores e fiscais de escravos. Alguns se autodisciplinaram ao passo que outros, debandaram sua responsabilidade e tornaram-se salteadores de estrada e ladrões. A Bahia foi um dos lugares mais habitados por homens daquele mundo, por isso os índios Caiapós, Tupis e Guaranis foram os primeiros a serem escorraçados dos barrancos do São Francisco e da região do Urucuia.
Acredita-se que os primeiros moradores do alto Urucuia, tenham sido parte do grupo dos Piratiningas (grupo de negros rebeldes), que por algum tempo perambulavam pela região, com costumes de alguns países africanos.
Depois de 1710 a civilização parecia querer quebrar as barreiras do grande sertão, selvagem, silencioso e vazio e o índio começava a perder a paz, em razão das andanças do branco nesta vasta região. Nessa época, tribos nômades e grupos de malfeitores implantaram o terror na conquista do mundo primitivo, com assaltos e assassinatos a sangue frio.
Dentro desse contexto, há relatos da existência de uma forca de aroeira na passagem da encosta da serra do rio São Domingos, hoje próximo a Goiás-Minas, margeando a atual rodovia que dá acesso à cidade de Formoso MG, que ficou conhecida como Charqueada dos Baianos. Um lugar alto, de visão panorâmica, era o ponto estratégico para assaltantes e ladrões de mercadorias e ouro, vindo da Bahia e do Goiás.
Ali nesse lugar marcado por imensa cruz, já apodrecida e um velho cemitério, foram ceifadas centenas de vítimas sepultadas no porão do esquecimento. Também nesta região da bacia do São Domingos e entre as nascentes do Fetal e de São João do Pinduca (Serra Bonita), existiam homens abastados na postura de coronéis, com capangas e jagunços, onde o clavinote, a carabina e o parabelo eram o juiz da lei do sertão.
Isso perdurou até meados do século XX, quando a família Ornellas de Formoso, junto com os Carneiro de Carinhanha, os Lobos de Goiás e os Valadares de São Romão, juntaram forças para expulsar das trincheiras os bandoleiros do alto do São Domingos.
Voltando um pouco no tempo, no início do século acima citado, muitos conflitos entre famílias aconteceram em torno da disputa de gado em Buritis. Tais conflitos também contribuíram para a decadência do arraial. Em razão disso, Buritis ficou algumas décadas quase sem receber emigrantes.
Outras histórias evidenciam a existência do “pau do concerto” por volta de 1820, época em que viviam aqui, grandes senhores de escravos, que costumavam mandar chicotear os negros preguiçosos e rebeldes. Alguns eram surrados até a morte.
Mesmo após a abolição dos escravos, dizem que até 1915 os coronéis fizeram uso do “pau do concerto” contra os malfeitores e muitos inimigos foram enforcados. Costumavam contar os mais antigos, que na saída da cidade, rumo a ponte do rio Urucuia, em um canto do pasto da atual fazenda da família do Senhor Délio Prado Lopes, era o local de punição dos indisciplinados do mundo sem justiça e sem lei.
De 1919 a 1922, a oposição do governo de Epitáfio Pessoa, começou a usar os militares para tirar vantagens e atingir seus objetivos políticos. Nasce o movimento conhecido por “Reação Republicana”. Filiados a oposição, os Tenentes mais aborrecidos realizaram um movimento armado que fracassou e seus mentores fugiram, formando uma junção, uma coluna revolucionária, formada por Luiz Carlos Prestes pela esquerda e uma outra ramificação pela direita do país, com Juarez Távora.
A Revolução de 1925 causou prejuízos irreparáveis aos habitantes do interior do Brasil. Quando por aqui chegaram os revoltosos, somando mais de 1.200 pessoas, passaram pelo comércio do Senhor Vitalino Fonseca Melo e carregaram botinas, chapéus, joias, ferramentas, tecidos, suas armas e munições. Depois resolveram hospedar-se em sua fazenda, mataram gado, invadiram canaviais, mandiocais e pegaram parte de sua tropa de cavalos.
Os mesmos revoltosos passaram na casa do Senhor Frutuoso Evangelista do Prado e apanharam mais de 400 rapaduras, saquearam outras propriedades, subiram a serra em direção Garapuava e foram embora.
Assim, podemos dizer que Buritis tinha vivido séculos de conflitos e dificuldades, mais de cem anos sufocado pela calamidade. Passado esse tempo das trevas, a esperança do urucuiano em ter paz e sossego ressurgia, juntamente com a força em tentar se reconstruir.
Texto: Gilberto Valadares.
Fonte: Raízes e Culturas de Buritis no Sertão Urucuiano – Oscar Reis Durães
A história é muito importante, principalmente em um país sem memória. Os maiores conflitos se instalavam nas regiões do interior, mais distantes. Gostaria muito de obter um livro como este, minha familia faz parte desta história.
Meu avô relatava pra nós que quando alguém de Montalvânia saía para o estado de Goiás no início do século passado, era uma choradeira na casa da Família…Pois temiam que aquele ente querido dificilmente retornaria ao seio da Família…Inclusive dois tios meu(José e Eusébio) pegaram esse caminho para o Goiás e nunca mais voltaram,a família não sabe o que aconteceu com eles …Ficou a dor e a esperança no coração de minha vó, em um dia reencontrar seus filhos…Ela falava deles dois com lágrimas nos olhos…Muito Triste