Antônio Dó, Lampião das Gerais
Dentre tantas histórias do nosso passado, conta-se um fato curioso que aconteceu aqui em Buritis.
Nascido a 22 de junho de 1882 em Buritis, Antonino Cândido Lopes era o segundo filho do Coronel Cândido José Lopes com Ana Josefina de Queiroz. Com o falecimento do Coronel Cândido em 1913, sua terceira mulher, conhecida por Maria Bita, natural de Serra das Araras, após ficar viúva e preocupada com a partilha dos bens com o filho do falecido, contratou o famoso Antônio Dó, que veio dos barrancos do São Francisco para matar Antonino.
A notícia veio na frente e ciente de seu destino, Antonino fugiu para a Fazenda Mangues, para ter ajuda e proteção de seu amigo Felipe Rodrigues da Costa. Antônio Dó chegou na fazenda de Felipe no entardecer do dia, quando Felipe o viu apear de seu cavalo.
Felipe Rodrigues rapidamente escondeu Antonino na dispensa de sua casa e o fez deitar dentro de um velho caixote onde se depositava o arroz e lançou sobre ele duas bandas de couro cru, caminhou disfarçadamente e foi recepcionar Antônio Dó.
Por alguns instantes conversaram e lembraram do passado, quando Antônio Dó fugido da polícia mineira, se abrigou na fazenda Mangues em Buritis, onde recebeu comida e proteção. Antônio Dó reconhecia estar em dívida com o amigo, foi quando Felipe em nome de sua amizade e consideração, pediu ao amigo que não matasse Antonino, porque ele era homem de bem.
Antônio Dó ficou em pé, franziu o rosto e vendo-se encurralado diante de sua missão disse: “Seu Felipe, o Senhor me apanhou desprevenido, mas o que o Senhor me pediu eu cumprirei, daqui sairei e nunca mais volto, porque no dia de hoje o Senhor me fez quebrar uma promessa”. Dó montou em seu cavalo e foi embora, e a vida de Antonino foi poupada por um triz, pois naquele dia a morte esteve na sua captura.
Antônio Antunes de França (Antônio Dó) nasceu em 1859, na cidade de Pilão Arcado (BA), viera da Bahia imigrada e em alguns anos construiu razoável patrimônio rural. Se envolveu em questões de briga por divisões de terra e foi preso por 30 dias, maltratado cruelmente, na mesma época em que um de seus irmãos foi morto e seu gado roubado.

Reprodução original do retrato publicado no “Estado de Minas”
Retirou-se injustiçado para o sertão de Serra das Araras, onde juntou um bando armado e logo invadiu a cidade de São Francisco (1913), exigindo a indenização de seus bens. Uma tropa de quase quarenta militares foi ao seu encontro, Antônio Dó liquidou vinte. Dó fez fama no sertão, resistindo aos desmandos dos coronéis. Chamavam de Antônio Dó, por causa de sua triste história de vida.
Em 14 de novembro de 1929 fruto de um complô armado pela sua quarta e última esposa, Fracilha, em um dia de manhã, Antônio Dó foi buscar lenha e recebeu uma forte pancada na cabeça com uma mão-de-pilão, dada por um de seus capangas chamado Fulo Taboca, liderado por Zé Olímpio. Além de muitas pancadas, Dó levou muitos tiros de garrucha, descarregada por José Olímpio.
O Túmulo onde está depositado os restos mortais do baderneiro famoso Antônio Dó, está localizado a 5 km do Distrito de Serra das Araras, no município de Chapada Gaúcha.
O Senhor Felipe Rodrigues da Costa viveu por muitos anos na fazenda Mangues e faleceu em 1954, aos 73 anos.
Antonino Candido Lopes cresceu e viveu em Buritis, casou-se quatro vezes, em seu último casamento com Astrogilda Evangelista do Prado, teve 12 filhos e criou vários órfãos. Foi um dos maiores cidadãos de Buritis e sua imagem é muita querida por todos. Era chamado de “Advogado” por se interessar e resolver causas dos menos instruídos, sem nenhum interesse de remuneração. Faleceu em 30 de janeiro de 1970.
Texto: Gilberto Valadares.
Fonte: Livro Raízes e Culturas de Buritis no Sertão Urucuiano e Portal Minas Gerais.